12.12.07

Contos de Jorjinho, a vingança - introdução

Um ponto final.

Era algo em torno de 18 horas, fui até a varanda e abri os vidros deixando que o cheiro do suor exalasse no vento. O céu tinha aquele ar púrpuro, como se estivesse devorando com desgosto um dia que não lhe agradou.
Acendi um cigarro e no primeiro trago senti minha vista ofuscar enquanto olhava para baixo e via os carros chegando. Senti ódio ao ouvir suas sirenes e buzinas estragarem aquele momento que misturava alívio e liberdade.
Quero me livrar deste quarto imundo, desses corpos perfeitos e sujos.

Dei mais um trago e tudo ficou quieto, não haviam mais sirenes nem gritos, apenas o som do vento. Olhei para minhas mãos e antes que pudesse ter alguma dúvida sobre o que acabara de fazer subi a mureta da varanda, me equilibrei com os braços abertos e então deixei gradativamente que o vento me levasse. Não pude nem perceber a carne do ombro sendo levada pelos tiros que atravessavam a janela do quarto. Estava caindo. Não havia medo nem vida passando pelos meus olhos.

Levantei a cabeça e abri os olhos enquanto via o horizonte inteiro de prédios subir, me escondendo à sombra enquanto eu caía. Sem dúvida o vento em meu rosto era um prazer indiscutível, e tudo acabará em um instante, enquanto me aproximo do solo, nada além do vento e essa ironia de resumir a vida em tão poucos segundos. Não me preparei para morrer. Foi um impulso.

Em breve estarei livre de tudo o que fiz, do meu passado e do meu futuro. O que fica já não me importa mais, meu corpo estará no solo. Meu corpo.
AAAAAAAAAAAAAAAAAhhhhhhhhhhhhhhhh!

________________________ Cap. 1 - 1982

Thom Loui estava deitado sobre uma toalha tão macia que mal pode perceber que adormecera, levantou-se limpando os grãos de areia que grudaram em sua roupa. John olhou para os lados, franzindo a testa para se localizar, mas não haviam muitas pessoas naquela praia. Respirou fundo, tentando esticar sua caixa toráxica de dentro pra fora e espreguiçou-se de uma maneira um tanto ridícula que quase o fez perder o equilíbrio. Suas costas estavam doendo, mas não se sentiu no direito de reclamar.

Pegou seus óculos jogados na areia, eram grandes, quadrados e pretos demais com armação de acrílico que definitivamente não cabiam dentro do seu próprio gosto, mas abandonou seu lado crítico e vestiu-o sabendo que aquilo era tendência e em seguida, parou seu olhar sobre algumas taças vazias deixadas encima da mesinha de praia devidamente colocadas uma ao lado da outra, de modo a lembrar o quão seca estava sua garganta. Ao lado, um jornal cujas páginas agitadas pelo vento destacavam a morte de uma cantora brasileira, Elis Regina.
Thom olhou no relógio, preocupado, mas aliviou-se ao ver que não dormira muito, apenas uma soneca de luxo, daquelas que se dão só pelo prazer de poder gastar aquele tempo dormindo, esperando.

Não demorou muito e ela apareceu no horizonte, vinha trazendo uma garrafa de champanhe, que pelo desenho do rótulo pôde perceber que era uma Perignon. Thom endireitou-se em sua cadeira de praia, fazendo pressão contra a coluna e assim se permitindo a uma postura de homem forte e poético enquanto olhava desconfortavelmente o vestido dela a frente do sol projetando suas formas contornadas no tecido, os cabelos com permanente, avermelhados como uma fênix em chamas, uma musa grega, quase uma Vênus, porém dotada de um corpo magro e de rígida musculatura, com quadris altos e precisos que se dividiam em duas longas pernas finas, torneadas por curvas sutis que se complementavam pelo desenho formado pelas ondas ao atingir os seus pés e tornozelos.

Thom não podia esconder o sorriso que lhe saltava o rosto, era mais forte do que sua vontade de parecer natural, mas tentou disfarçar mantendo a cabeça virada para o horizonte enquanto os olhos lhe doíam contorcendo-se a visão.
Nada poderia ser mais perfeito do que o momento seguinte.

Porém, Thom notou que algo de estranho estava acontecendo, ela hesitou por um instante, como se lembrasse de algo, mas não era isso. A garrafa de champanhe escorreu por suas mãos como se a força para segura-la já não lhe fosse suficiente. Seu corpo foi desmoronando como se agora pesasse mais que um elefante, primeiro os joelhos a tocar o chão, depois as mãos buscando apoio, tudo estava ficando escuro enquanto suas forças iam fugindo de seus braços até que seu corpo inteiro encontrava-se deitado, inconsciente, na areia.


To be continued...

Um comentário:

Duca Lima disse...

realmente ... ela cai na areia :( mata ela ... pq ela naum morre queimada????

ai vc pode chamar ela de Soraia !

hahahahahahah

bjs

adorei o conto ... cuidado pra naum virar romance viu rsrs